O Presidente da ANPG, S.E. Eng. Paulino Jerónimo, fala à Africa Oil & Power sobre o papel que o regulador tem desempenhado na mitigação dos impactos da pandemia COVID-19 e na implementação de medidas de recuperação para a indústria.
Quais têm sido os desenvolvimentos chave no sector petrolífero angolano nos últimos doze meses, dando particular peso ao estado de emergência imposto pela COVID-19?
Nos últimos doze meses foram negociados e assinados vários acordos em diferentes concessões. No Bloco 14, foi negociado o redesenvolvimento da área de desenvolvimento Tômbua Lândana que comporta as antigas áreas do Kuito, Benguela, Belize, Lobito, Tomboco e do Tômbua Lândana. Este acordo prevê a perfuração de vários poços de desenvolvimento e exploração, adicionando, numa primeira fase, cerca de 60 milhões de barris em reservas ao bloco.
Outro acordo é o do Bloco 15, que juntou várias áreas de desenvolvimento e prevê a perfuração, numa primeira fase, de 17 poços de desenvolvimento que trarão produção adicional. No Bloco 18, foi acordado o desenvolvimento do campo Platina, que fará parte da área de desenvolvimento do Grande Plutónio, permitindo nos próximos tempos a produção de cerca de 20 mil barris de petróleo por dia.
Para o Bloco 17, prevê-se a entrada em funcionamento dos projectos Clov Fase II e Dália Fase III. Várias acções estão a ser encetadas para a melhoria da eficiência operacional em todas as concessões.
O Estado de Emergência imposto pela COVID-19 provocou um atraso na implementação dos projectos acima referidos, já que causou a suspensão temporária dos contratos da maior parte das sondas a operarem em território nacional. Temos trabalhado com o Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, as operadoras petrolíferas e as prestadoras de serviço no sentido de evitar a propagação da pandemia nas instalações petrolíferas e o regresso, o mais breve possível, das sondas de modo a efetivar o acordado.
Em que ponto se encontra a próxima ronda de licitações para blocos de exploração petrolíferos, e prevê mais algum atraso no processo de licitação e atribuição desses blocos?
Em relação à próxima ronda de licitações, estamos na fase de preparação para a publicação do pré-anúncio, em princípios de outubro, devendo os termos de referência ser publicados 120 dias depois. Prevemos fechar o processo em meados de 2021 com a adjudicação dos blocos em concurso.
Existe um grande interesse por parte de pequenas e médias empresas em participar nas licitações de blocos onshore.
Qual é o foco da revisão da estratégia de exploração de hidrocarbonetos proposta pela ANPG, e de que forma é que esta difere da estratégia de licenciamento 2019-2025 já existente?
A estratégia de atribuição de concessões 2019-2025 é apenas um dos objetivos constantes na Estratégia de Exploração de Hidrocarbonetos de Angola, que tem em adição mais três objetivos, sendo por isso mais abrangente. A estratégia de exploração inclui a avaliação do potencial de exploração em concessões sob contrato, incentivando os grupos empreiteiros a explorar dentro das suas áreas de desenvolvimento e a reavaliarem o potencial remanescente do bloco. Inclui também a avaliação do possível potencial de hidrocarbonetos não convencionais no onshore e a avaliação da região ultra ultra profunda das bacias do Congo e do Kwanza.
A avaliação do potencial de gás nas diferentes bacias é também um tema central nesta estratégia. São estabelecidas metas para cada um dos objectivos e são também definidas as fontes de financiamento para a implementação da estratégia e o seu impacto na produção petrolífera nos próximos anos. Resumindo é um documento mais robusto no que toca ao tema da exploração.
Poderão as extensões das licenças acordadas para os blocos 14, 15 e 17 antes da COVID-19 aliviar a pressão sobre os prazos e compromissos financeiros associados à conclusão dos programas de perfuração de poços?
Naturalmente a situação da COVID-19 teve impacto nos prazos de início da implementação do que foi acordado, já que foram suspensas temporariamente as atividades de sondagem. No entanto, hoje vemos com agrado que, graças ao esforço conjunto dos diferentes intervenientes na indústria, começou já o regresso das sondas para a execução do aprovado.
De que forma é que a COVID-19 poderá alterar as perspectivas na área da exploração, no sentido de direcionar investimento para o sector do gás natural e das renováveis como resposta a um preço baixo e volátil do petróleo?
O petróleo continuará a ser de grande interesse dos investidores o que é demonstrado pelos altos investimentos que continuam a ser feitos para a produção desta ‘commodity’ e o contínuo interesse nas novas licitações de concessões. No entanto foram assinados alguns acordos no que toca também à produção de gás. Refiro-me ao Novo Consórcio de Gás que prevê o desenvolvimento de campos de gás nos Blocos 1, 2 e 3 para o abastecimento do Angola LNG e para outros projectos domésticos e ao SLGC de Cabinda que tem como objectivo a construção de uma plataforma para o envio de gás dos campos Nemba e Sanha para o Angola LNG.
A procura de gás é um dos objectivos centrais na nossa estratégia de exploração tendo como fim, para além do abastecimento ao Angola LNG, a construção de um novo pólo de desenvolvimento em áreas onde for encontrado em quantidades que o justifiquem.
De que forma é que a ANPG vê a produção doméstica a mudar no curto, médio e longo prazo?
Em relação à produção doméstica, é do conhecimento geral que a mesma está em declínio acentuado, estando este declínio calculado entre 12-16% ao ano. A curto prazo a melhoria da eficiência operacional, as campanhas de intervenção em poços bem como a perfuração de poços intercalares permitirão atenuar esse declínio. Neste capítulo incluímos também em caso de sucesso a exploração dentro de áreas de desenvolvimento. A médio prazo com a aprovação de várias descobertas marginais será possível pôr novos campos em produção nas diferentes concessões, o que terá impacto no combate ao declínio. A mais longo prazo e em caso de sucesso, contamos com os blocos que serão adjudicados entre 2019 e 2025.
À luz das cotas de produção impostas pela OPEP, quão crítica é a cooperação pan-africana e global para lidar com o decréscimo nos preços das commodities?
Na nossa opinião a cooperação pan-africana será sempre importante, independentemente dos cortes da OPEP. A APPA tem estado a congregar os países africanos produtores e a melhorar o seu desempenho.