Ricardo Van-Deste, CEO da unidade de Exploração e Produção da Sonangol.
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O terceiro dia de debates, mesas redondas e apresentações da Semana da Energia Africana começou com uma sessão dedicada à companhia petrolífera nacional de Angola. A animada sessão cobriu as ambições de produção de petróleo da empresa, centrando-se na vontade da empresa em aumentar a percentagem da produção de petróleo operada em Angola de 2% para 10% nos próximos anos; nos planos de redução da sua pegada de carbono, desde a plantação de mangais ao investimento em soluções de energia renovável; e, finalmente, na questão fundamental para o petróleo e gás na África no mundo de hoje, que é o financiamento.
“Há muita gente a dizer que o nosso petróleo vai acabar. Penso que provavelmente ficaremos sem dinheiro muito antes de ficarmos sem petróleo,” disse Ricardo Van-Deste, CEO da unidade de Exploração e Produção da Sonangol.
Se a luta para atrair investimentos estrangeiros para a indústria do petróleo sempre foi uma realidade em África, com muitos produtores de petróleo a dependerem quase exclusivamente de empresas e experiência estrangeiras para explorar os seus recursos, a situação piorou bastante nos últimos anos, à medida que vários países e instituições financeiras começaram a proibir investimentos em projetos relacionados com os hidrocarbonetos devido às suas implicações ambientais.
À medida que a narrativa da transição energética continua a progredir a velocidades variáveis, é provável que a situação se agrave para os produtores de petróleo e gás do continente, e não menos para a Sonangol. Como Van-Deste sugeriu, “pode chegar o dia em que os bancos deixam simplesmente de nos dar mais dinheiro.
Em resposta a essa ameaça iminente e no âmbito do seu programa de regeneração, a Sonangol está a encontrar soluções alternativas para angariar capital de modo a expandir as suas operações. Se começou por alienar as suas várias propriedades não essenciais, que a certa altura chegaram a incluir agências de viagens, hotéis e serviços de catering, entre muitos outros ativos, tem-se agora concentrado noutro tipo de ativos.
“Identificámos 8 blocos que incluiremos na nossa estratégia de desinvestir para investir, onde temos blocos de exploração e ativos de produção. Desta forma, as empresas interessadas, com perfis diversos, podem entrar no mercado sem que tenham de passar por um concurso nacional,” acrescentou Van-Deste.
Estes 8 blocos foram selecionados por terem margens de rentabilidade mais baixas ou custos de desenvolvimento mais elevados e a sua venda proporcionará dinheiro em caixa para que a Sonangol possa financiar outros investimentos nos seus ativos mais rentáveis.
Esta gestão de portefólio é fundamental para dar folga à empresa em relação às suas obrigações financeiras.
“Precisamos de diversificar a forma como obtemos dinheiro. Precisamos de esperar até ao final do ano para avaliar o que podemos obter do nosso programa de desinvestimento e avaliar que outros meios de financiamento podemos encontrar,” acrescentou.
Esses outros meios de financiamento provavelmente significarão a há muito anunciada IPO (inicial public offering) da NOC. Não é segredo que a liderança política angolana e o Conselho de Administração da Sonangol têm sido a favor da colocação de pelo menos parte da empresa na bolsa, seja em Luanda, Londres ou Nova Iorque, mas a data para que isso aconteça permanece indefinida. Sebastião Gaspar Martins, Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, anunciou em setembro, em Luanda, que a empresa pretendia «acelerar» o lançamento da sua IPO, mas não se sabe ao certo o que isso significa.
Contudo, uma coisa parece certa: o financiamento de projetos de petróleo e gás em África só se tornará mais difícil à medida que a transição energética progrida, e empresas como a Sonangol terão de ser criativas para permanecer solventes e continuar a explorar petróleo, sendo que, por mais que o mundo esteja a aquecer, continua a consumir 100 milhões de barris de petróleo não refinado todos os dias.